ILÍDIO MARTINS
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MARIA JOÃO E MÁRIO LAGINHA: O EXCELENTE
CONCERTO QUE OS PORTUGUESES NÃO VIRAM

© Ilídio Martins/Luso-Americano
19 de Novembro de 1997

Confesso que hesitei antes de escrever umas linhas sobre o concerto de Maria João e Mário Laginha que teve lugar no último sábado no NJPAC, integrado no Festival de Jazz de Newark. Não que ele não o mereça, mas porque ninguém me incumbiu o sermão e porque tenho a impressão que ninguém está interessado em saber o que lá se passou. À excepção de uma equipa da RTPi e de mim próprio, não vi lá um único português, embora admita que tenha lá estado um ou outro. Não vou dizer que a ausência de portugueses foi uma surpresa porque, de facto, não foi. A tímida promoção do concerto junto da comunidade portuguesa deixava adivinhar isso. Se não me engano, a promoção resumiu-se à publicação de um anúncio de meia página nos jornais da comunidade, ainda por cima anunciando, erradamente, que os bilhetes podiam ser adquiridos nos locais habituais (Tucha e Casa dos Presentes). Não percebo porque não se fez um investimento promocional semelhante ao que foi feito para o Madredeus e Cesária Évora e, posteriormente, para a Orquestra Gulbenkian, que tão bons resultados deu.

Poder-se-á argumentar que, devido às características deste tipo de música (jazz), este concerto interessava apenas a um público específico e eventualmente reduzido (porventura não justificando qualquer investimento), mas eu não vou nisso. Se o argumento foi este, também me parece que a Orquestra Gulbenkian não merecia qualquer investimento na promoção, uma vez que o repertório foi integralmente preenchido por música clássica e, ainda por cima, nem sequer era da mais acessível. Como mereceu, e bem, uma campanha de promoção, o público português acorreu em grande número. Se gostou ou não do que viu e ouviu... isso é outra história.

Mas não foi por isso que o concerto de Maria João e Mário Laginha teve menos brilho. Pelo contrário, deu a conhecer aos americanos — que se deslocaram àquela sala para ver, acima de tudo, um grande nome do jazz (Betty Carter) — um duo português que tem sido aclamado pela crítica e pelo público por esse mundo fora. Pela forma como reagiram dentro da sala (aplausos), pelos comentários que ouvi após o concerto e pelo que vi no palco não tenho dúvidas que Maria João e Mário Laginha realizaram uma performance de altíssimo nível, nada ficando a dever em termos de qualidade ao excelente trio que se seguiu (Joshua Redman, Christian McBride e Brian Blade) e à consagradíssima Betty Carter. Detentora de uma voz poderosíssima e de uma flexibilidade desarmante (foi muitas vezes interrompida por aplausos em momentos em que não é muito "normal" aplaudir-se), Maria João encheu a sala do NJPAC com uma música que por vezes soou bem portuguesa, e nem sequer me pareceu um obstáculo para os americanos os dois ou três poemas cantados em português que emergiram de uma linguagem essencialmente gutural, muito bem gestualizada (apetece-me dizer desenhada) com os movimentos corporais de Maria João e tão bem sublinhada por uma enorme cumplicidade do pianista Mário Laginha. Bem sei que estou a exceder-me no entusiasmo, mas permitam-me que deixe aqui dito que este concerto me emocionou, o que raramente me acontece. Sobretudo porque foi aplaudido por um público americano, que não conhecia a música e muito menos os seus protagonistas e que se deslocou àquela sala para ver o concerto (belíssimo) de Betty Carter.

A terminar, apetece-me repetir o que disse já a propósito do concerto do Madredeus e Cesária Évora: a fórmula que está a ser seguida (dois ou três concertos por noite) voltou a prejudicar o público e os músicos. O programa foi demasiado extenso (começou às 7:30 e acabou por volta da meia-noite), levando grande parte do público a abandonar a sala muito tempo antes do último concerto da noite (Betty Carter) terminar. Precisamente o mesmo público que foi ao NJPAC para ver... Betty Carter.

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