ILÍDIO MARTINS
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OLGA RORIZ MOSTROU NO VICTORIA
THEATER UNIVERSO MUITO PRÓPRIO

© Ilídio Martins/Luso-Americano
20 de Fevereiro de 1998

Tal como aconteceu aquando da performance da Companhia Paulo Ribeiro, em Abril deste ano, o trabalho apresentado sábado no Victoria Theater do New Jersey Performing Arts Center (NJPAC) pela Olga Roriz Companhia de Dança voltou a causar algum espanto no público presente e até algum mal estar junto de quem está pouco habituado a consumir produtos culturais que não são imediatamente perceptíveis ou que tem alguma dificuldade em entender que um artista coloque em plano secundário (como foi o caso) esse suposto factor de primeiríssima importância. De facto, o espectáculo "Anjos, Arcanjos, Serafins, Querubins… e Potentados", elaborado expressamente para o Festival dos 100 Dias da Expo’98, não pretende, segundo Olga Roriz, ser compreendido por toda a gente, nem tem que ter uma "história" para contar, acrescento eu. Tal como a directora da companhia referiu no final do espectáculo, o seu trabalho pretende mostrar a sua maneira de sentir Portugal, sem que, para isso, abdique de mostrar o que lhe vai na cabeça, o seu universo próprio, de ser verdadeira consigo mesma.

Contrariamente à Companhia Paulo Ribeiro e ao Ballet Gulbenkian (não é um reparo, servem apenas para fazer a comparação), o espectáculo de Olga Roriz soou bem português. De facto, a cultura portuguesa, sobretudo a de raiz popular, esteve presente durante toda a performance, sobretudo através da música (de Carlos Zíngaro), dos rituais do calendário católico e da própria cenografia (de João Mendes Ribeiro). Para além deste pormenor, notou-se bastante mais a componente dramática do que propriamente a dança, o que não espanta vindo de quem rejeita o formalismo da dança moderna clássica e a estética da "dança pura", como afirmou a um jornal americano. Aliás, alguns dançarinos desta companhia vêm mesmo do teatro, como mais tarde se constatou. Outro dado que merece referência é o facto deste belíssimo trabalho ter uma enorme contribuição dos bailarinos, já que eles, como a própria Olga Roriz afirmou, são elementos activos na evolução do processo criativo, quer no que respeita à coreografia quer no que se refere aos textos. Por último, a improvisação esteve também presente nesta performance, o que demonstra bem a abertura da coreógrafa e constitui, sem dúvida, um factor de risco adicional.

Sobre o trabalho propriamente dito — assente numa estrutura de sonho, onde cada episódio evolui para o episódio seguinte sem que exista uma (aparente) ligação —, por vezes fica-se com a sensação que estamos a assistir a uma peça de teatro, nomeadamente em quatro belíssimos "quadros" que eu designaria, seguindo a ordem cronológica, por "farsa", "desencanto", "desespero" e "morte". Para reforçar esta ideia surgem os textos, escritos pela própria Olga Roriz de pareceria com alguns dos bailarinos. São textos poéticos muitíssimo bem elaborados e ditos com elegância, refira-se, embora me tenha parecido um erro não traduzir para inglês o que me pareceu ser o texto mais poético e, talvez por isso, mais bonito. Adivinha-se que a tradução não seria fácil e que perderia, pelo menos, a sonoridade, mas teria sido bem mais eficaz junto do público que não domina a língua portuguesa.

Para quem não conhece o percurso de Olga Roriz, refira-se, por último, que ela integrou o Ballet Gulbenkian durante 16 anos, para o qual criou mais de 20 coreografias. Aí conquistou vários prémios nacionais e internacionais, dos quais se destacam o 1º Prémio Coreográfico do Concurso de Dança de Osaka (Japão), Prémio Ano de Coreografia da revista londrina "Time Out" (Inglaterra) e o 2º Prémio no Festival Internacional de Dança Suzanne Delall (Israel). Em 1995 fundou a sua própria companhia, a Olga Roriz Companhia de Dança, que os portugueses (e não só) tiveram o privilégio de ver no último sábado no NJPAC.

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