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UM CLÁSSICO Raramente vou a um concerto de música clássica cuja principal finalidade é inaugurar (ou encerrar) um evento. Para ser mais preciso, fujo destes concertos como o diabo foge da cruz. Como os apreciadores de música clássica saberão, há demasiados assuntos laterais num concerto do género que perturbam a fruição musical, e já foram algumas as vezes que de lá saí com os nervos em franja. Isto porque grande parte do público não vai ao concerto pela música mas pelo acontecimento social, pois toda a gente sabe que é de bom-tom ir a um concerto de música clássica — e é preciso não esquecer que um concerto de música clássica é um excelente local para ver e ser visto. Escusado será dizer que, para esta gente, a pior parte do concerto é o concerto propriamente dito. Dez minutos chegam e sobram para ficarem a suspirar e a olhar para o relógio — e é precisamente isto que me chateia. Sentir gente à minha volta a suspirar e a olhar para o relógio, enerva-me — e uma vez enervado já não consigo fruir o concerto. Bem sei que o concerto propriamente dito acaba por ser um castigo (inteiramente merecido) para essa gente, o que não deixa de ter a sua graça. O problema é que eu já vi vezes de mais esse filme, e mesmo o que é bom cansa quando ingerido em doses exageradas. Além de que sempre me deixam com uma dúvida: o que sentirão os concertistas quando sabem (e tenho a certeza que não ignoram) que o público está ali por outras razões que não a música que eles vão executar? Será que não os incomoda o facto de saber que aquela gente está ali pelos cabelos, mortinha que aquilo acabe? Ou será que, perante um cenário desses, chega a haver músicos que sentem prazer em massacrar aquela gente? Um mistério. Um mistério em que eu prefiro não pensar quando vou a um concerto de música clássica. Mas, se penso, não vou.
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07-01-2009 |