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BOATOS E INSINUAÇÕES Tirando as organizações que fazem questão de alardear o orgulho de ser isto ou aquilo, toda a gente concorda que a orientação sexual de cada um só a cada um diz respeito. Mas todos sabemos, também, que assim não acontece, pois toda a gente quer saber da sexualidade de toda a gente — e a mais leve insinuação ou boato de que alguém não é «normal» transforma-se logo em certeza, especialmente se o visado optar pelo silêncio. Se um vizinho é suspeito de ser homossexual, o bairro inteiro não tem dúvidas de que o vizinho é homossexual. Se uma colega é suspeita de ser bissexual, ninguém tem dúvidas de que é bissexual. Ora, se isto é verdade para cidadãos anónimos, quando se trata de figuras públicas não há fronteiras. Nem fronteiras, nem limites. Assim sendo, pouco ou nada havendo a fazer para contrariar situações destas, resta aos visados minimizar os estragos. E, para minimizar os estragos, eu só vejo uma de duas saídas: desmentir de forma clara e inequívoca a acusação de que se é alvo, ou assumir a condição de que se é acusado. Como nada disto sucedeu até agora no caso José Sócrates — o líder do PS limitou-se a dizer que era tudo mentira, mantendo em reserva a sua orientação sexual —, estão criadas as condições para que as insinuações e boatos prossigam e continuem a render audiências — além de que sempre haverá situações que se prestem a ser interpretadas como insinuações e gente mal-intencionada disposta a tudo. Com certeza que o líder do PS tem toda a legitimidade para não revelar a sua orientação sexual, mas é bom não esquecer que o direito de reserva acaba por ser, também ele, uma forma de alimentar insinuações e boatos. Daí que a fuga para a frente me pareça infinitamente melhor que o silêncio, pois o silêncio deixa tudo como está. E, como está, a situação não dignifica ninguém. Não dignifica quem se mete a fazer insinuações, nem dignifica quem é alvo delas. Mais: contrariamente ao que julgo ser o pensamento dominante, ninguém ganha com isso. Não ganha quem insinua, nem ganha quem é vítima. Pelo contrário: ambos perdem.
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Pacifistas
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07-01-2009 |