ILÍDIO MARTINS
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Ilídio Martins
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MANJEDOURAS
Springfield, 16-10-2008

Como saberá quem me lê com frequência, sou sensível às artes, às letras e às ideias. Prezo, portanto, os seus praticantes, naturalmente mais uns do que outros, e mais as obras que os seus autores. Dito isto, a notícia de que artistas (chamo-lhe artistas para simplificar) habitam casas do município lisboeta que lhe foram atribuídas ninguém sabe como e onde vivem em condições que mais ninguém tem, aliada à tese de que é normal o Estado (ou autarquias) albergar os artistas ou ceder-lhes património público de borla, ou quase de borla, devia, por isso, deixar-me indiferente, talvez achá-la normal. Como já perceberam, não fico indiferente, nem acho normal. Não me escandaliza que os poderes públicos decidam, excepcionalmente, ajudar um artista na miséria, por considerarem que o artista na miséria produziu obra importante para o país (ou município), e que o país (ou município) ficou, de algum modo, em dívida com ele. Mas já me escandaliza a chusma de artistas a viver a expensas públicas, e que, confrontados com a evidência, ainda tenham o desplante de dizer que não vêem mal nisso. Falo das casas do município alfacinha, mas podia falar da generalidade dos artistas que vivem à custa dos dinheiros públicos (de todos nós, portanto), muitos deles enquanto alegremente vão produzindo coisas que ninguém ouve, ninguém vê e ninguém quer saber, evidentemente que, segundo eles, devido à ignorância dos portugueses em coisas do espírito. Nada contra os artistas pretenderem estar bem na vida, calma aí. O meu problema é que eles usufruem de benefícios que o resto dos cidadãos nem imagina que existem, e que alguns ainda se achem no direito de fazer exigências, acusando o país de não os merecer, ameaçando ir-se embora. Tenho saudades do tempo em que os artistas não tinham onde cair mortos, reconheço. Do tempo em que se ouviam histórias de actores que cravavam notas de vinte para tratarem das barriguinhas, de músicos que inventavam esquemas mirabolantes de modo a adiar o pagamento da renda, de escritores a viver a expensas de amigos e amantes — e que, notem bem, nem por isso deixaram de ser artistas e de produzirem as obras que lhe conhecemos. Ser pobretanas, hoje em dia, deixou de ser «sexy», para usar uma expressão muito em voga. Podem não produzir nada que exceda a mediania, mas não se privam de mordomias, incluindo mordomias que um pingo de ética bastaria para as rejeitar. Nada contra, insisto, mas desconfio que a qualidade do que produzem é proporcional ao tamanho da manjedoura. Desconfio, para ser mais preciso, que quanto maior é a manjedoura, menor é a obra que produzem.

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