ILÍDIO MARTINS
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ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE
OS EMIGRANTES PORTUGUESES EM NEW JERSEY

© Ilídio Martins/Encontro
Abril de 1997

1. A comunidade portuguesa do Ironbound tem vindo a mostrar, nos sucessivos actos eleitorais, que se está nas tintas para os "políticos" e para a política. Apesar de, à primeira vista, poder parecer uma atitude de "saudável rebeldia", a verdade é que o aparente desprezo que esta atitude encerra não augura nada de bom. Para o bem e para o mal, os "políticos" preocupam-se mais (ou apenas) com os grandes círculos eleitorais (leia-se onde há muitos votos) do que com os que têm uma expressão eleitoral reduzida. Isto significa que não votar é (quase) não existir. E não existir é continuar a ser ignorado pelos "políticos" e a não serem cumpridas as tais "promessas" de que toda a gente diz andar farta.

2. A eleição do Conselho das Comunidades portuguesas marcou uma viragem histórica no relacionamento entre os portugueses residentes no estrangeiro e o governo português. Embora seja conveniente não esquecer que se trata de um órgão meramente consultivo, os emigrantes portugueses têm agora, pela primeira vez, representantes com legitimidade (expressa através do voto) para assumir posições junto do governo português. Por seu lado, os governos portugueses passaram também a ter um interlocutor privilegiado junto das comunidades portuguesas residentes no estrangeiro, concentrando a "voz dos emigrantes" numa só estrutura que, por ser apenas uma, ganha maior eficácia e tem mais "peso" do que muitas vozes dispersas e nem sempre consensuais. Resta agora fazer votos para que este Conselho das Comunidades não se transforme num órgão meramente "decorativo" ou num instrumento ao serviço deste ou doutros governos.

3. Após vários anos de esforços para criar uma espécie de confederação de associações portuguesas de New Jersey, o ex-cônsul geral de Portugal em Newark, dr. Júlio de Vasconcelos, ficaria profundamente desapontado se um dia regressasse ao reino dos vivos e verificasse que o Centro de Acção Filantrópica e Cultural (CAFIC) se desmoronou de um dia para o outro, pelo menos na prática. De facto, é triste verificar que um projecto desta natureza não tenha vingado e não se vislumbre qualquer "ressurreição" ou alternativa. A meu ver, a CAFIC falhou porque se criou uma estrutura demasiado "pesada" (leia-se com muita gente nos corpos sociais), tornando-se, por isso, pouco funcional. As previsíveis lutas de "galos" e a forma pouco clara como foram escolhidos uns e excluídos outros aquando da constituição dos corpos sociais parecem também, tudo o indica, ter provocado cisões irremediáveis, colocando em causa a natureza do projecto.

4. Apesar de estes textos terem sido redigidos nos primeiros dias de Abril, não deverei errar muito se considerar desde já que o projecto previsto para o Riverbank Park e área circundante constituiu o acontecimento do ano para a comunidade portuguesa do Ironbound. Embora a maioria dos seus residentes tenha votado "não" ao projecto no referendo que a Câmara de Newark entendeu promover - um resultado que, confesso, me surpreendeu -, a verdade é que os portugueses vão poder usufruir, para além de outros benefícios, de uma infraestrutura polivalente e de um parque inteiramente remodelado. Ou seja, tudo indica que a maioria dos residentes no Ironbound votou contra os seus próprios interesses, vá lá saber-se porquê. Confesso que também não percebi as razões dos que defenderam um "não" no referendo, alegando que - e apenas isso - não acreditavam que o projecto fosse alguma vez concretizado, que era mais uma promessa que nunca seria cumprida. Parece-me óbvio que dizer "não" ao projecto é dar antecipadamente aos responsáveis toda a legitimidade para o transferir para outro local. Felizmente que a sua execução nunca esteve dependente do resultado do referendo e que este, curiosamente, se saldou por um rotundo "sim".

5. Apesar da aparente polémica que criou, particularmente em Newark, continuo a pensar que o aparecimento da Radiotelevisão Portuguesa Internacional (RTPi) foi um acontecimento importante para as comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo. Pena é que, no caso concreto de Newark, os interesses de dois ou três, geralmente apresentados como se de uma faixa enorme da população se tratasse, tenham impedido que a RTPi faça hoje parte do "pacote" básico do cabo - como era (ainda será?) intenção dos seus responsáveis -, vedando assim o acesso à grande maioria dos emigrantes portugueses residentes nesta área. Numa altura em que a RTPi parece ter desistido dos seus propósitos para Newark e, estranhamente, a comunidade se mostra acomodada à situação, ouço agora com alguma frequência dizer que os programas da dita são de baixa qualidade. Concordo na generalidade com as críticas, mas tenho para mim que a RTPi é, no seu conjunto, bem melhor do que a grande maioria dos canais americanos.

6. Durante os vários anos em que fui responsável editorial pela página do Brasil no jornal Luso-Americano apercebi-me que os brasileiros amam profundamente o seu país. Foram frequentes, ao longo de todos esses anos, as reclamações de leitores brasileiros sempre que as notícias publicadas nessa mesma página não abonaram em favor do seu país, embora eu sempre tenha rejeitado, como hoje rejeito, qualquer outra intenção da minha parte que não fosse um critério de natureza meramente editorial (discutível, naturalmente) que entendi seguir. É certo que este pequeno "incidente" de que fui protagonista não permite, por si só, levar-me a concluir que os brasileiros, ao reagirem mal sempre que vêem publicadas notícias, sobretudo na imprensa estrangeira, que não abonam a favor da sua pátria, amam profundamente o seu país, mas convenhamos que é um exemplo a não desprezar. Outro exemplo flagrante é a língua. Nunca vi um brasileiro fazer o mínimo esforço para falar como os portugueses sempre que tem necessidade de comunicar com estes, ao contrário de muitos portugueses que o fazem, quase sempre desnecessariamente, quando falam com os brasileiros. Aliás, também nunca vi um hispano tentar imitar os portugueses, mas já vi muitos portugueses tentarem imitar os hispanos. Confesso que isto me cheira a um obscuro complexo de nos assumirmos como portugueses.

7. Já o disse diversas vezes e volto a repetir: o jornal "A Bola" é provavelmente a maior escola de português no mundo. Pode parecer um exagero - ou até um paradoxo -, mas a verdade é que muitos dos nossos compatriotas, especialmente os emigrados por esse fundo fora, têm no jornal "A Bola" o único motivo para ler em português, alguns até o único contacto com a língua portuguesa. E, já agora, a revista "Maria", o correspondente feminino que os homens tanto desdenham mas acabam por folhear longe de olhares indiscretos. Provavelmente nenhum governo pensou ainda - ou se o pensou não o fez, talvez por pudor - em atribuir uma condecoração (ou outro reconhecimento do género) ao jornal "A Bola". Cá por mim, olhando para o ror de medalhas com que todos os anos são distinguidos uns quantos portugueses aquém e além mar, não tenho dúvidas que seria mais do que merecida.

8. Por falar no jornal "A Bola", o futebol português continua a ser, apesar da calamidade que por lá vai ao mais alto nível, um factor que tem travado o crescente desenraizamento de muitos dos nossos compatriotas emigrantes. Não deixa de ser curioso verificar como alguns jovens nascidos na América seguem de perto o que se passa no "mundo" da bola, "torcendo" por este ou aquele clube com a mesma convicção dos que lá vivem. É certo que, na maior parte dos casos, esse interesse foi transmitido em casa pelos pais, mas também vêm de casa outros valores portugueses que raramente cativam esses mesmos jovens.

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