ATENTADO DE 11 DE SETEMBRO
Joe Salgado estava nas Twin Towers
NÃO SEI PORQUE FUI DOS ESCOLHIDOS PARA VIVER
E OUTROS FORAM ESCOLHIDOS PARA MORRER
© Ilídio Martins/Luso-Americano
19 de Setembro de 2001
Eram 7:45 da manhã do dia 11 de Setembro quando José Salgado
entrou a porta do escritório do First Union. Lembra-se de estar
"um dia maravilhoso", da excelente visibilidade para a Estátua da
Liberdade e que nesse dia fazia 35 anos que chegara à América.
Natural de Orense, Espanha, José Salgado (Joe, para os amigos) era
uma das 44 pessoas que, diariamente, trabalhava no escritório que
ocupava metade do 43º andar da Torre Um do World Trade Center
(WTC) deste Maio deste ano, altura em que o First Union se
transferiu para o local.
Actual vice-presidente do Lar dos Leões de New Jersey, onde foi um
dos fundadores da Secção de Futebol Juvenil, Joe Salgado iniciou
praticamente o seu dia de trabalho às 8:30 com uma reunião de
rotina.
O MUNDO VAI ACABAR
Quinze minutos depois da reunião ter começado, um Boeing 767 da
American Airlines com 81 passageiros e 11 tripulantes a bordo
colidiu, por alturas do 80º andar, precisamente com a torre onde
se encontrava a trabalhar e... tudo mudaria: "De repente ouvi uma
explosão. Toda a gente que estava no escritório caiu. Houve gritos
do género "o mundo vai acabar". Levantámo-nos, olhámos para as
janelas e vimos bancos, malas e outras partes do avião passar em
frente às nossas janelas. Fugimos para debaixo das mesas. Depois
levantámo-nos e tentámos comunicar com o Port Authority [entidade
que supervisiona o WTC], que não sabia o que se tinha passado.
Depois começou a cheirar a combustível", recorda Joe Salgado.
O sistema interno de som, por onde todos esperavam uma informação,
permaneceu mudo. As luzes de emergência também não funcionaram.
Aperbendo-se do fumo e aparentemente entregue à sua sorte, Joe
Salgado resolveu agir. A primeira medida foi molhar um rolo de
papel e colocá-lo na boca para respirar melhor. Depois, juntamente
com os colegas, deslocou-se para as escadas e começou a descer, em
fila, por uma escada com pouco mais de um metro de largura.
"Os que desciam formaram uma fila do lado da parede. Do lado de
dentro subiam os bombeiros e desciam as pessoas acidentadas,
nomeadamente as pessoas com queimaduras", explicou Joe Salgado.
PÂNICO NA TORRE
Mas o pior estava para vir. Dezoito minutos após a colisão do voo
da American Airlines na Torre Um proveniente de Boston e que
deveria ter seguido para Los Angeles, um segundo Boeing 767, este
da United Airlines, colidia com a Torre Dois por alturas do 40º
andar.
"Quando chegámos ao 23º andar sentimos o impacto do segundo avião.
Vi caír um dos bancos do avião com duas pessoas sentadas e o que
me pareceu ser parte de um motor. Aí é que ficámos realmente a
saber que algo de muito grave se passava. E começou a instalar-se
o pânico. Houve gente que tentou passar para a frente, empurrões,
pessoas que começaram a discutir. Enfim, uma confusão incrível",
recorda Joe Salgado.
Entretanto, o fumo e o calor não paravam de aumentar e havia
muitas pessoas com falta de ar. Joe ajudaria a destruir uma
máquina de onde retirariam água e sumos com que humedeceram as
gargantas e que lhes serviu de alívio durante alguns minutos.
Joe Salgado recorda que, apesar da confusão incrível e de tudo o
que estava a acontecer, "houve bastante ordem". E não se esquece
do papel dos bombeiros, sempre a subirem e a procurarem salvar
mais uma vida: "Costuma-se dizer que os bombeiros têm uma vida boa
mas quando se vê uma coisa destas fica-se realmente com uma visão
completamente diferente."
E continuou a descer, agora mais depressa. No 15º andar esperava-o
mais uma "ratoeira": "Contrariamente ao que acontecia nos andares
de cima, os "sprinklers" (borrifadores) estavam a funcionar [a
deitar água] e foi necessário ter muito mais cuidado porque o chão
estava cheio de água. Caí por três vezes."
Depois de ter ajudado duas mulheres com sérios problemas de
respiração a instalarem-se em cadeiras de rodas e a serem
evacuadas pelos serviços de socorro, Joe Salgado viu, finalmente,
a porta da rua. Exactamente 40 longos minutos após o embate do
primeiro avião.
CENÁRIO DANTESCO
Eram 9:33 quando Joe Salgado abandonou aquela "torre do inferno".
Já na rua, começou por abraçar alguns colegas que já tinham
conseguido saír. Depois ouve a polícia a mandar sair toda a gente
dali o mais depressa possível. Só aí é que se apercebe do cenário
dantesco à sua volta: pessoas a lançarem-se das torres,
paramédicos a recolher pessoas sem braços, gente com a cabeça
partida, um bombeiro que tenta tirar uma pessoa debaixo de um
carro e quando o tentou arrastar ficou com um braço na mão. Enfim,
cenas terríveis que jamais esquecerá.
Após ter caminhado dois quarteirões na companhia de três colegas,
Joe Salgado ouve um polícia a ordenar-lhe que corra e não olhe
para cima. Mas Joe Salgado olhou e viu tudo a cair. Começou a
correr o mais depressa que pôde: "Nunca pensei que fosse capaz de
correr tanto e tão depressa e sinto que, se não tivesse sido capaz
de correr tanto, não me teria conseguido salvar", disse.
Mas ainda apanhou aquela enorme "bola" de poeira que toda a gente
viu na televisão: "andei de gatas durante uns cinco minutos, com
grande dificuldade para respirar".
Depois sentiu que alguém passou por ele e lhe deixou uma garrafa
de água. Tirou a camisola, rasgou-a em pedaços, molhou-a e começou
a limpar a cara para conseguir ver melhor o que se passava à sua
volta. Depois ofereceu os restos da camisola a quem estava à sua
volta e apercebeu-se que tinha perdido o contacto com os colegas.
O pó foi levantando e foi avançando para a Brooklin Bridge, agora
ao lado de uma senhora que lhe calhara como companheira de
tragédia e que, pouco depois, seria recolhida por um táxi. Quase
no final da ponte é a sua vez de ser recolhido por um táxi, que já
trazia dois passageiros da área da tragédia e que o deixaria,
juntamente com um engenheiro que se encontrava na 79º andar da
mesma torre e que também ia para New Jersey, perto da Varrazano
Bridge.
FAMÍLIA EM PÂNICO
Entretanto, cerca de 50 pessoas, entre família e amigos, aguardava
na sua residência num ambiente de grande ansiedade qualquer sinal
de Joe Salgado que, devido aos enormes problemas nas comunicações
que se verificaram nesse dia, só conseguiria contactar com a
família mais de três horas após o choque do primeiro avião.
O drama acabou por ter um final feliz. Mas Joe teve muitas dúvidas
que assim terminasse, especialmente enquanto aguardava a sua vez
de saír. "Duvidei muitas vezes que conseguisse sair dali com vida.
Eu só pensava nos meus filhos. Só queria ter um telefone nessa
altura para poder falar com a família, para lhe dizer que não
sabia se ia sair dali...
Três dias depois do pesadelo, Joe Salgado confessa que teve sorte,
muita sorte. E que, embora pouco praticante, é católico: "Não sei
porque fui dos escolhidos para viver e outros foram escolhidos
para morrer. Mas sinto que tenho que ir mais à igreja."
|
Não
Sei Porque Fui Dos Escolhidos Para Viver e Outros Foram Escolhidos Para Morrer
-
Joe Salgado, vice-presidente do Lar dos Leões de New Jersey, estava nas Twin
Towers no fatídico dia 11 de Setembro.
Saramago
e Eu
-
Crónica integrada num 'dossier' a propósito do Nobel da Literatura a José
Saramago.
Português
Desceu o Rio Amazonas
-
Entrevista com o autor do livro "Da Nascente à Foz do Amazonas - Uma
viagem Fantástica". Alfredo Nascimento, o autor, fala do livro e das
experiências únicas que viveu desde as montanhas geladas do Perú até ao
Brasil.
Algumas
Considerações Sobre os Emigrantes Portugueses em New Jersey
-
Oito questões acerca dos portugueses em New Jersey.
Pregar
no Deserto
-
Os portugueses de New Jersey.
Imigrantes
Lusos São Portugueses de Primeira
-
Crónica acerca dos direitos e deveres dos imigrantes portugueses nos Estados
Unidos publicada sob o pseudónimo de José M. Costa.
Dulce
Pontes Encheu o Prudential Hall e Encerrou da Melhor Maneira Programa Português
no N.J.P.A.C.
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Dulce Pontes mostrou trabalho de grande qualidade e encantou milhares de
portugueses.
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