ILÍDIO MARTINS
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Ilídio Martins
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O SENTIDO DA DIFERENÇA
© Ilídio Martins/Luso-Americano
Janeiro de 1992

Regra geral, a dita classe política nunca me interessou por aí além. Actualmente, e à medida que o tempo se cumpre, menos ainda. A política apresenta-se-me cada vez mais como um mal necessário. Os políticos, ditos como tal, pior ainda. Salvo raríssimas excepções, a ribalta política conquista-se à custa de processos pouco dignificantes, com muita malandrice, e/ou através de outros meios em tudo semelhantes que jamais conquistaram o meu agrado. Quanto às excepções, se as há, permitam-me que duvide delas. Sou, como se vê, um céptico em relação à política, o que não significa necessariamente que me seja um assunto indiferente.

Tenho, naturalmente, opiniões sobre a política, sobre os políticos. Sobretudo sobre aqueles que, uma vez no poder, marcaram, à sua maneira, a época em que viveram, e cuja memória colectiva vai lembrar por mais tempo do que é comum registar-se. Sobre a memória política, é curioso constatar-se que o chamado cidadão comum não sabe ou já não se lembra quem foi, por exemplo, o primeiro presidente da República Portuguesa, mas sabe certamente, ou já ouviu falar, quem foi Luís de Camões, que não foi, que se saiba, presidente de coisa nenhuma. Dito de outra maneira, os homens permanecem na memória colectiva essencialmente por duas razões: pela obra que nos legaram, ou pela diferença com que agiram. Todos os outros acabam por caír, mais rapidamente do que seria de supor, no esquecimento de todos. Permanecer na memória dos povos não é, necessariamente, e importa que se diga, sinónimo de razões nobres. Hitler, neste caso, é um bom exemplo.

Tudo isto a propósito de Mário Soares. De um homem que continua a conquistar ódios e paixões, de um político que foi um dos principais protagonistas de um período conturbado da nossa história recente. Politicamente hábil, sábio gestor da sua própria imagem, o presidente da República soube sempre escapar-se mais ou menos ileso às situações que lhe foram desfavoráveis, sem para isso ter que refugiar-se em silêncios cobardes ou escapar-se temporariamente pelas traseiras do comodismo. A coragem e a determinação, aliadas a uma enorme persistência, foram igualmente características fundamentais que lhe permitiram conduzir sempre a 'água ao seu moínho', quantas vezes em situações adversas. Repare-se que poucos políticos que tiveram um papel activo na revolução portuguesa do 25 de Abril sobreviveram nos círculos do poder, situação que, certamente, não aconteceu por acaso.

Actualmente, como presidente da República, Mário Soares parece ter-se tornado, pelo largo consenso criado em torno da sua recandidatura, o homem certo no lugar certo. É sabido que determinados sectores da vida política portuguesa continuam a não se identificar com o actual presidente da República, mas é igualmente verdade que esses mesmos sectores não possuem, de momento, alternativas credíveis.

Sobre a minha opinião de Mário Soares — e é este o objectivo da prosa —, direi que o considero, como político, e pelo que ficou dito, um personagem, no mínimo, interessante. Talvez mais do que isso, mas a verdade é que não morro de amores pelos homens da política. Como homem, Mário Soares é, acima de tudo, uma personalidade com uma sólida formação cultural, um profundo amante das artes, o que é raro verificar-se em qualquer poder político e que tem, naturalmente, reflexos (positivos, no meu entender) na sua maneira de agir e de estar. E é esta característica que me faz, por si só, ter dele uma opinião globalmente positiva. Afinal, Mário Soares consegue ser uma excepção nesta floresta imensa de tecnocratas da política — que pululam por toda a parte, e que quase nunca conseguem mover-se fora dos horizontes específicos e limitados da política, demasiado tecnicistas para representarem e sentirem realmente os anseios colectivos dos mortais.

Mário Soares foi, como se esperava, reeleito presidente da República. Goste-se ou não do facto, goste-se ou não do homem, goste-se ou não da obra, a verdade é que, como disse Platão, temos sempre os políticos que merecemos.

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