O.J.
SIMPSON:
O JULGAMENTO DO SÉCULO
©
Ilídio Martins/Luso-Americano
Novembro de 1994
Apesar
da procissão ainda ir no adro, o processo que envolve a ex-vedeta
do futebol norte-americano O.J.Simpson, acusado de ter assassinado
a sua ex-esposa Nicole Simpson e o seu amigo Ronald Goldman, em
Junho passado, é já considerado por muitos como o julgamento do
século. Não propriamente devido à forma brutal como o crime foi
cometido, evidentemente, mas porque os personagens nele envolvidos
oferecem garantias de sucesso mediático de tal ordem que a
imprensa não se pode dar ao luxo de as desprezar.Graças aos
directos televisivos quase diários e às toneladas de papel que a
imprensa escrita põe a circular diariamente — cumprindo a sua
função de informar mas nem sempre despida de outros objectivos
menos nobres —, o julgamento de O.J.Simpson, cuja primeira fase
de selecção do júri que julgará a prova mais dura da sua
carreira terminou na quinta-feira passada, quebrou já a rotineira
indiferença que os americanos devotam geralmente a estes casos,
habituados que estão a encarar este tipo de situações como
acontecimentos que conquistaram há muito o estatuto de triviais
no quotidiano das grandes cidades. O julgamento do ex-futebolista
americano tem sido, por isso, seguido com mais ou menos atenção
por quase toda a gente, razão pela qual se justifica um resumo de
toda a história e seus últimos desenvolvimentos.
Um crime brutal
Tudo começou por volta da meia-noite do dia 12 de Junho, quando
os vizinhos da ex-esposa de O.J.Simpson, Shukru Boztepe e Bettina
Rasmussen, encontraram os cadáveres de Nicole Brown Simpson, de
35 anos, e do seu amigo Ronald Goldman, de 25. Nicole Simpson, em
vestido de noite, encontrava-se numa poça de sangue com o
pescoço cortado, e o aspirante de modelo Ronald Goldman
permanecia perto e descalço com 22 facadas. Segundo a tese da
acusação, o duplo homicídio, cometido mesmo em frente a uma das
portas da mansão de Nicole Simpson, situada em Brentwood, Los
Angeles, deverá ter ocorrido entre as 10:15 pm e as 11:00 pm, e
foi de uma forma tão brutal que levou um dos primeiros polícias
a inspeccionar o local — praticamente um veterano neste tipo de
crimes — a comentar: "foi o crime mais sangrento que alguma
vez vi".
Simpson viaja para Chicago
Nas horas que se seguiram ao duplo homicídio ninguém lhe passou
pela cabeça que O.J.Simpson pudesse vir a transformar-se pouco
tempo depois no primeiro e único suspeito. Simpson, uma antiga
"estrela" do futebol norte-americano e na altura
comentador da modalidade na cadeia de televisão NBC, voou para
Chicago na noite do crime, às 11:45 pm, e teve por companheiro de
voo o fotógrafo Howard Bingham. Segundo Bingham, que ficou
estarrecido quando teve conhecimento do caso, conversaram sobre
golfe praticamente durante toda a viagem, e disse não se ter
apercebido de "nada de anormal". Comportamento normal
foi também o que acharam os empregados do O'Hara Plaza Hotel,
onde Simpson "chegou cansado mas bem disposto" Segundo
estes, O.J.Simpson dispensou-lhes mesmo alguns minutos, contou
algumas piadas e deu autógrafos antes de subir para a suíte 915.
Horas mais tarde, após ter sido avisado pela polícia do
sucedido, Simpson estava de regresso a casa. Uma vez chegado a Los
Angeles, o ex-fu-tebolista dispendeu cerca de três horas com a
polícia, que o descreveu então como uma possível testemunha e
nunca como suspeito.
Polícia fecha o cerco
Menos de uma semana depois do duplo assassinato, e com O.J.Simpson
a apresentar sinais visíveis de desânimo e abatimento, a
situação começou a complicar-se. O minucioso exame efectuado
pela polícia começava a dar os primeiros sinais de que
O.J.Simpson podia vir a ser preso a qualquer momento, sob a
acusação de homicídio de primeiro grau, que na Califórnia é
punido com a pena de morte. Perante a eminência da prisão, o
advogado de Simpson, o carismático Robert Shapiro, começou
imediatamente a formar uma equipa para defender o seu cliente.
Shapiro começou por reunir especialistas em medicina legal —
para analisarem cada evidência — , por contratar um médico de
clínica geral — para vigiar a saúde do seu cliente — e um
psiquiatra — para acompanhar a dependente depressão em que
O.J.Simpson se encontrava. A ordem de prisão veio cinco dias
depois dos assassinatos, e foi imediatamente comunicada pelo
comandante do departamento de polícia de Los Angeles ao advogado
de Simpson. O comandante da polícia comunicou a Robert Shapiro
que os testes científicos efectuados ao material recolhido
durante as buscas policias continham evidências mais do que
suficientes para incriminar o ex-futebolista, pelo que este devia
entregar-se imediatamente às autoridades. Após negociações
entre o advogado e o comandante da polícia, Shapiro concordou que
o seu cliente se entregaria às 11 da manhã daquele mesmo dia
(sexta-feira), impondo como condição que Simpson fosse, antes de
se entregar, observado pelos médicos, pois receava que este se
pudesse suicidar. Mas Simpson estava disposto a passar por cima
deste acordo. Quando o comandante do departamento de polícia de
Los Angeles se apresentou na casa do ex-futebolista para consumar
a sua prisão, bateu com o nariz na porta. Simpson tinha falhado o
compromisso e era agora um fugitivo. Estava, portanto, aberta a
caçada.
Suspense e emoção
Três horas após Simpson ter falhado o compromisso, o advogado
Robert Shapiro apareceu finalmente frente às câmaras de
televisão a quebrar o suspense de tão empolgante caso, que
estava a ser seguido por todo país através da imprensa,
nomeadamente da televisão. Afinal, disse Shapiro, o seu cliente
não se encontrava na sua mansão mas na casa do seu velho amigo
Robert Kardashian, no Vale de São Fernando. Shapiro garantiu uma
vez mais que O.J.Simpson estava pronto para se entregar à
polícia, e esta dirigiu-se imediatamente para o novo local. O
resultado é conhecido: a polícia bateu uma vez mais com o nariz
na porta. E ficou furiosa. Entretanto, logo após as declarações
de Robert Shapiro, Robert Kardashian aumentou ainda mais o
suspense à volta do caso, ao ler, frente às câmaras de
televisão, uma carta que Simpson terá escrito para a posteridade
e que soava como uma espécie de nota de suicídio. Simpson
reclamou o seu amor por Nicole, a sua inocência no crime e
denunciou os "erros" da imprensa: "Não posso
acreditar no que estão a dizer", escreveu. A carta terminava
com uma espécie de último adeus: "Não tenham pena de mim,
tenho tido uma vida excelente e bons amigos. Por favor, pensem
apenas no real Simpson e não nesta pessoa perdida". À mesma
hora que tudo isto se desenrolava, o ex-futebolista estava
demasiado ocupado a tratar de alguns assuntos que queria deixar
resolvidos antes de levar por diante os seus intentos. Primeiro
telefonou ao advogado de família e ditou uma alteração ao
testamento. Depois escreveu três cartas — aos seus filhos, à
sua mãe e "a quem possa interessar".
A caçada
A polícia começou a receber sinais do paradeiro de Simpson às
7:15 da noite. Tom Langue, um dos detectives que esteve na
dianteira da investigação policial, conseguiu localizar pelo
telefone o ex-futebolista no Ford Bronco do seu amigo Al
Cowllings, que circulava a baixa velocidade numa auto-estrada da
região e pouco depois estava a ser seguido por todo país
através da televisão. A partir daí, seguiu-se uma cena bem
característica dos filmes policiais, com o requinte de se tratar
de um caso real e envolver uma figura conhecida nacionalmente.
Após negociações em que intervieram vários amigos da
ex-estrela da NFL — que lhe pediram para desistir dos seus
intentos —, a captura de Simpson acabou por consumar-se à
entrada da sua residência.
Mais de 100 evidências
O.J.Simpson, de 47 anos, actualmente numa cadeia de alta
segurança de Los Angeles, é acusado de ter assassinado a sangue
frio a sua ex-esposa Nicole Brown Simpson e o seu amigo Ronald
Goldman na noite de 12 de Junho passado, e argumenta que está
inocente. A equipa de acusação, liderada pela promotora de
Justiça do condado de Los Angeles Marcia Clark, tem na sua posse
234 objectos recolhidos do património dos Simpson, mais de 100
dos quais vão ser usados em juízo para tentar provar que Simpson
foi o autor do duplo homicídio. Apesar da defesa se ter batido
durante as audiências preliminares no sentido de serem suprimidas
a grande maioria das evidências — alegando que resultaram de
buscas policiais não autorizadas ou autorizadas sob falsas
declarações —, o juiz do Supremo Tribunal Lance Ito, que
concordou com as irregularidades policiais, aceitou suprimir
apenas três objectos: cópias de documentos enviados a Simpson
por um advogado, um bloco de notas que contém números de
telefone e uma cassete de vídeo com um documentário sobre os
dias de glória do ex-futebolista.
Das principais evidências a apresentar em juizo pela Procuradoria
de Justiça do Condado de Los Angeles, que se bate pela tese de um
só assassino, destacam-se a alegada arma do crime (uma faca de 15
inchas) e gotas de sangue recolhidas no local do crime, no Ford
Bronco, no vestíbulo e na casa de banho da mansão de Simpson
(cujo teste DNA provou tratar-se de sangue com as mesmas
características do de Simpson), e ainda pisadas, cabelos
semelhantes aos do acusado, um boné de malha e um par de luvas
ensanguentadas (que o teste DNA provou tratar-se também de sangue
com as mesmas características do de Simpson).
A acusação, de cuja equipa fazem ainda parte o co-promotor de
Justiça William Hodgman e o procurador de Justiça do condado de
Los Angeles Gil Garcetti, poderá usar ainda como evidências
importantes uma nota enviada por Nicole ao ex-marido — em que
manifesta o seu desejo de, a partir daquele momento, os contactos
entre ambos passarem a ser efectuados por uma terceira pessoa —
e registos de chamadas telefónicas de Nicole para o 911 após
violentas discussões com O.J.
Objecto importante que poderá também ser apresentado como
evidência do crime será uma cassete de vídeo com extractos de
"Frogmen", um filme que se encontrava em fase de rodagem
e do qual O.J.Simpson fazia parte como actor. A acusação está
convencida de que este filme terá sido fundamental na
planificação do crime, uma vez que Simpson toma parte numa cena
em que usa uma faca.
Defesa contra-ataca
Por seu lado, a defesa prepara-se para usar provavelmente a sua
arma mais poderosa para levar por diante a sua missão de
inocentar o ex-futebolista, invocando a Quarta Emenda da
Constituição dos Estados Unidos para tentar suprimir as
evidências encontradas aquando das buscas efectuadas pela
polícia alegadamente sem autorização judicial — ou
alegadamente obtida sob falsas declarações. A Quarta Emenda da
Constituição dos Estados Unidos diz nomeadamente que "a
polícia é obrigada a mostrar a provável causa que levou ao
cometimento do crime para obter autorização legal para iniciar
as buscas".
Independentemente desta tese, que por ser uma questão sensível
ao povo americano pode ter consequências imprevisíveis, a
defesa, liderada por Robert Shapiro e constituída ainda pelos
advogados Alan Dershowitz, Johnnie Cochran Jr. e F.Lee Bailey,
prepara-se para atacar evidência por evidência. Em primeiro
lugar, argumenta ser improvável que uma pessoa agindo sozinha
possa ter morto a sua ex-mulher e o amigo. "A teoria de
apenas um assassino é altamente improvável, devido à natureza
das lesões infligidas e à posição dos corpos das
vítimas" — defende Shapiro. Para reforçar esta tese, a
defesa apoia-se ainda no resultado da autópsia efectuada aos
cadáveres pelo médico Irwin Golden, e nas declarações por este
prestadas de que poderiam terem sido usadas duas facas.
Sobre o sangue encontrado no local do crime, na mansão de Simpson
e no Ford Bronco do ex-futebolista — que constitui a arma mais
preciosa da acusação —, a defesa vai atacar em várias
frentes. Em primeiro lugar, vai explorar a seu favor o facto do
até então inquestionável teste DNA — um sofisticadíssimo
teste laboratorial usado, neste caso, para determinar as
características do sangue das vítimas e do suspeito — dividir
hoje os tribunais da Califórnia quanto à sua admissão ou não
como prova em julgamento e não merecer consenso na comunidade
científica quanto ao seu grau de falibilidade. A defesa argumenta
ainda que o sangue encontrado no local do crime — que tem as
mesmas características do de Simpson — pode ser já antigo e
não ter, por isso, qualquer relação. Nada a ver com o crime
não tem também o sangue encontrado na mansão e no Ford Bronco
de Simpson, segundo os advogados de defesa, que explicam o
primeiro caso como "actividades inocentes" e o segundo
como resultante de um corte nos dedos.
As evidências de sangue recolhidas pelos investigadores no local
do crime vão ser ainda alvo de uma outra tentativa de
desvalorização, alegando a defesa que foram recolhidos por
"uma criminalista novata", que os métodos utilizados
estão cheios de erros e que os resultados do testes efectuados
mostram que o sangue tem as mesmas características que o sangue
de milhares de pessoas. Além disso, acrescentam, a inexperiência
dos técnicos do laboratório da polícia "pode ter
contaminado" o sangue recolhido no local do crime e na casa
de Simpson, ou pura e simplesmente terem sido forjadas as
evidências enviadas para análise laboratorial.
Sobre esta última hipótese, a defesa chegou a pedir
autorização judicial para ter acesso aos ficheiros pessoais e
militares dos quatro detectives que investigaram o caso no dia do
crime, pedido que o juiz recusou. O alvo principal da defesa era o
detective Mark Fuhrman, que encontrou a luva ensanguentada nas
traseiras da casa de Simpson e se tornou, por isso, numa
testemunha-chave em todo o processo. A defesa pretendia, com o
acesso aos ficheiros, procurar sinais de racismo na actuação de
Mark Fuhrman, uma vez que este é branco e poderia, por essa
razão, ter forjado a evidência.
Ainda respeitante às principais evidências a serem exibidas pela
acusação, Robert Shapiro afirmou já que os cabelos encontrados
no local do crime têm as mesmas características que as de
milhares de afro-americanos, e que as pegadas também encontradas
no local do crime não são de Simpson mas do verdadeiro
assassino.
Quanto ao paradeiro de Simpson na hora do crime — que a polícia
calcula ter sido cometido entre as 10:15 pm e as 11:00 pm —, o
ex-futebolista argumenta que se encontrava em casa a dormir, mas o
motorista da "limousine" que o conduziu ao aeroporto
nessa mesma noite contou à polícia uma versão que põe em causa
o alibi. A versão de Allan Park coloca O.J.Simpson fora da sua
mansão de Brentwood precisamente à mesma hora em que os
promotores pensam ter ocorrido o assassinato, uma vez que este diz
ter chegado a casa de Simpson às 10:25 pm e afirma que o
ex-futebolista não respondeu quer aos toques de campaínha quer
às chamadas telefónicas que efectuou na tentativa de informar
Simpson da sua presença. Por volta das 11:00, acrescentou o
motorista, viu um vulto com cerca de seis pés de altura entrar na
casa de Simpson e pouco depois este atendeu o telefone.
A tese de O.J. pode, portanto, ruír pela base, tanto mais que há
quem garanta que a acusação está na posse do registo das
chamadas telefónicas efectuadas por Simpson na noite do crime que
por si só é suficiente para deitar por terra a tese de que o
ex-futebolista se encontrava a dormir.
Filhos de Simpson poderão depor
Quanto às testemunhas que poderão ser ouvidas em juízo, a
acusação deixou transparecer nos últimos dias que os filhos do
casal — Sydney, de 9 anos, e Justin, de 6 — e do primeiro
casamento de Simpson, Arnelle Simpson, poderão ser chamados a
depor. Para além dos depoimentos dos filhos, que constituirão
certamente um dos momentos mais dramáticos deste julgamento,
deverão ser chamados a depor em juízo Judith Brown, mãe da
vítima, e os amigos de Simpson Al Cowllings e Robert Kardashi-an.
Os detectives Mark Fuhrman e Philip Vannater, que fizeram as
buscas à casa de Simpson, e o chefe do laboratório de análises
sanguíneas Gregory Matheson, são testemunhas já confirmadas no
julgamento. Outras testemunhas prováveis serão o motorista que
conduziu o ex-futebolista ao aeroporto na noite do crime, Allan
Park, Brian Kaelin, que vivia na casa de Simpson reservada aos
convidados, Allen Wattenberg e Jose Camargo, respectivamente
co-proprietário e empregado da loja que vendeu a suposta arma do
crime, e os vizinhos Shukru Boz-tepe e Bettina Rasmussen, que
encontraram os cadáveres.
Testemunhas misteriosas
Embora nada de concreto tenha vindo a público, fontes da defesa
revelaram que esta se prepara para apresentar um alibi suportado
por testemunhas que dá conta, minuto a minuto, do paradeiro de
Simpson na noite do crime. As mesmas fontes adiantaram que a
segunda parte desta estratégia será suportada pela tese de que
pelo menos dois outros indivíduos — de que se espera os nomes
em juízo — podem ter cometido o duplo assassinato.
Frank Chiuchiolo e John Du-ton são outras testemunhas que
poderão depor em defesa de Simpson, embora os seus perfis em nada
contribuam para valorizar o eventual peso dos seus depoimentos.
Frank Chiuchiolo, um vagabundo de 45 anos, afirmou ter escutado
uma mulher a gritar e ter visto dois homens brancos a abandonar o
local do crime precisamente à mesma hora em que ocorreram os
homicídios. Por seu lado, John Duton, de 32 anos, que possui
registo criminal por falsificação, afirma que corre perigo de
vida se resolver contar o que sabe. Duton foi mandado para a
cadeia por um juiz, em 7 de Setembro, e posteriormente libertado.
Segundo o advogado de Duton, Robert Rentzer, que chegou a ameaçar
levar o caso do encarceramento para o Supremo Tribunal, o seu
cliente manifestou-se disposto a permanecer encarcerado o tempo
que fosse necessário para salvar a sua vida. Embora se tenha
recusado a revelar de que é que o seu cliente tinha medo, Rentzer
adiantou que John Duton forneceu "preciosa informação"
à Justiça, recusando-se apenas a revelar os nomes mesmo em troca
da promessa de anonimato.
Por seu lado, a acusação poderá fazer avançar ainda uma
testemunha que afirma ter visto O.J.Simpson a conduzir enfurecido
o seu Ford Bronco com as luzes apagadas perto da casa da sua
ex-esposa à mesma hora que se deu a matança. Contudo, segundo
fontes ligadas ao processo, a acusação ter-se-á desinteressado
do depoimento de Jill Shively após esta ter decidido vender a sua
história aos produtores do programa de televisão 'Hard Copy',
por cinco mil dólares, ou porque a versão de Shively colocava
Simpson fora do local do crime à hora em que as autoridades
defendem ter ocorrido o duplo assassinato (entre as 10:15 e as
11:00 pm).
Pena sem morte
Se o desfecho do caso que envolve a ex-vedeta do futebol
norte-americano permanece uma incógnita, certo já é que, caso
seja considerado culpado, O.J.Simpson não será condenado à pena
de morte. A decisão foi tomada em 9 de Setembro pelo gabinete do
procurador de Justiça do Condado de Los Angeles, e, como seria de
esperar, levantou enorme polémica. Segundo observadores, esta
decisão de não aplicar a pena capital prevista na legislação
californiana ter-se-á devido ao facto de Simpson não possuir
antecedentes criminais e porque raramente a Justiça daquele
estado executa pessoas por terem matado as esposas. Seja qual for
o motivo que esteve na origem da decisão, a verdade é que foram
vários os analistas que manifestaram à imprensa o seu desagrado,
afirmando, nomeadamente, que a decisão pode subtilmente afectar
futuros casos de pena de morte e dar a ideia de que a pena capital
não foi aplicada porque o acusado é uma figura pública. Outro
aspecto que rodeou esta tomada de decisão por parte das
autoridades de Los Angeles foi a posição de vários grupos
femininos, que pressionaram fortemente no sentido de ser aplicada
a pena capital.
O júri da discórdia
A primeira fase de constituição do júri que vai decidir o
destino de O.J.Simpson terminou quinta-feira passada com a escolha
de doze jurados, seguindo-se agora a escolha de mais quinze
suplentes. A escolha dos doze jurados, que começou em 26 de
Setembro e que partiu de uma convocatória inicial de mil
potenciais candidatos — que foram passando por sucessivas fases
eliminatórias —, não foi, como se calcula, tarefa pacífica,
uma vez que quer a acusação quer a defesa puseram sistemática e
constantemente em causa o perfil dos candidatos sugeridos pela
outra parte e que preenchiam, cada um pelas suas razões, os
requisitos necessários para um juízo imparcial. Este processo
arrastou-se, por isso, durante cerca de cinco semanas, durante as
quais os potenciais jurados foram obrigados a responder a
inúmeros questionários, prevendo-se agora que a escolha dos
jurados suplentes esteja finalmente concluída no final deste
mês.
O júri, escolhido por consenso entre a acusação e a defesa e
que vai ficar "sequestrado" num hotel durante todo o
tempo que durar o julgamento (o juíz pondera mesmo a hipótese de
o manter praticamente incomunicável, ou seja, sem telefone,
televisão, rádio e jornais), é constituído por oito
afro-americanos, dois hispanos, um branco e uma pessoa que se
identificou a si próprio como metade branco e metade índio
americano. Oito dos doze jurados são mulheres, e as idades vão
desde os 22 aos 52 anos. A constituição deste júri
transformou-se, ainda antes de começar, em alvo de enorme
controvérsia, nomeadamente devido à questão racial, quebrando o
que normalmente constitui uma tarefa rotineira. De facto, a defesa
nunca escondeu, desde o início do processo, a sua intenção de
afastar as mulheres e os brancos do júri, por razões óbvias, e
usou todos os meios ao seu alcance para o conseguir. Para já,
numa observação superficial aos doze elementos escolhidos
ressalta que a defesa alcançou uma parte considerável das suas
intenções, muito embora tenha perdido terreno para as mulheres,
que constituem dois terços dos jurados. Quase cinco meses após
os assassinatos de Nicole Simpson e Ronald Goldman, resta agora
encontrar os quinze jurados suplentes para começar o julgamento
propriamente dito. Se tudo correr conforme as previsões dos mais
optimistas, tudo estará terminado em finais de Dezembro, altura
em que os nomes dos intervenientes passarão à história do que
é já considerado o julgamento do século.
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