ILÍDIO MARTINS
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BALLET GULBENKIAN MOSTROU TRABALHO
DE ALTO NÍVEL NO VICTORIA THEATER

© Ilídio Martins/Luso-Americano
29 de Fevereiro de 1998

Dando continuidade ao programa "Rumos e Sons Portugueses", o Ballet Gulbenkian apresentou-se no fim de semana passado no Victoria Theater do New Jersey Performing Arts Center (NJPAC) para uma série de três espectáculos (sexta, sábado e domingo) que mostraram a altíssima qualidade do trabalho desenvolvido por um corpo de bailarinos de excelente nível. Dirigido desde 1996 pela brasileira Iracity Cardoso, que possui, no mínimo, um currículo impressionante, esta performance integrou coreografias dos israelitas Ohard Naharin e Itzik Galili e do português Rui Horta, e julgo ter impressionado o público mais exigente. Utilizando um repertório contemporâneo, esta autêntica instituição da dança em Portugal mostrou um trabalho elaborado ao mais pequeno pormenor e porque tem sido convidada para inúmeras actuações por esse mundo fora.

A primeira coreografia da noite, do israelita Ohard Naharin, que também assinou o trabalho de cenografia, de figurinos e de luzes, evoluiu ao som do Concerto Brandeburguês nº 4 de Johann Sebastian Bach, criando uma atmosfera de serenidade e "um fluxo constante de energia que se transmite de bailarino para bailarino como uma onda", citando as palavras da jornalista alemã Christiane Franke. "Axioma 7", o título desta coreografia, criada especialmente para o Ballet do Grande Teatro de Geneve (Suíça) e inserida no repertório do Ballet Gulbenkian em 1996, pretende constituir, segundo o autor, um trabalho em que os "movimentos explodem", na "procura incessante de uma unidade imaginária".

Seguiu-se "Flat Space Moving" ("Espaço Plano em Movimento"), da autoria do coreógrafo português Rui Horta e estreado pelo Ballet Cullberg (Suécia) em Outubro do ano passado. Com música de Philippe Deschepper, Ground Zero, Beautiful People, Yens & Yens e Norberto Zacharias, este belíssimo trabalho coreográfico de Rui Horta, que também assinou a cenografia e as luzes, pôs em destaque o desempenho individual dos bailarinos e a expressão dramática de uma "peça" que nos mostrou a relação entre o grupo e o indivíduo, as fronteiras que separam o homem enquanto ser individual e os desejos do colectivo. Exigente para os bailarinos, "Flat Space Moving" jogou com os diversos ambientes poéticos criados por um complexo jogo de luzes para nos mostrar o que me pareceu ser sobretudo a solidão de um homem que luta contra o mundo, contra as regras sociais estabelecidas, contra tudo o que o impeça de sobreviver como individualidade.

"The Butterfly Effect" ("O Efeito Borboleta") foi o primeiro dos dois trabalhos que se seguiram do coreógrafo israelita Itzik Galili, que neste bailado é também responsável pela cenografia. Usando as suas próprias palavras, esta coreografia "esboça a relação entre um homem, uma mulher e o seu amante". A ausência de música neste bailado, ou talvez a criação de música a partir desse silêncio, foi a opção que talvez melhor tenha servido esta encenação das hesitações do amor. "The Butterfly Effect", criado para o Batsheva Ensemble e estreado pelo Ballet Gulbenkian no ano passado, falou de uma relação amorosa entre uma mulher e dois homens, das suas aproximações e recuos, das suas dúvidas e fraquezas, do drama de uma relação que se torna insustentável e à qual urge pôr termo.

A performance do Ballet Gulbenkian terminou com o belíssimo quadro "See Under X" ("Ver na Letra X"), ainda do israelita Itzik Galili. Esta coreografia mostrou uma sequência de quadros grotescos que nos transportaram para um cenário circense, onde desfilaramm a um ritmo alucinante aquilo a que o autor denominou "animais civilizados". Foi, porventura, a coreografia mais espectacular, a que não está alheio o trabalho (notável) do grupo de percussão "O ó Que Som Tem?", que interpretou ao vivo música original e evidenciou um "casamento perfeito" entre músicos e bailarinos.

Finalizado o espectáculo de estreia no NJPAC (sexta-feira), a directora artística do Ballet Gulbenkian, Iracity Cardoso, mostrou-se algo agastada com alguns erros técnicos inexplicáveis cometidos a nível da iluminação e a sua intenção de corrigir (ou adaptar a este público) as partes em que os bailarinos agradecem as palmas do público, embora se tenha mostrado satisfeita com o desempenho dos seus pupilos. Pela minha parte confesso que essas falhas (que eu não detectei) não tiveram importância alguma. O que tinha realmente importância pareceu-me muitíssimo bem. E estou certo que o Ballet Gulbenkian repetirá a proeza nos próximos espectáculos da sua digressão pelos Estados Unidos (1 de Maio em New Bedford, e 7, 8 e 9 de Maio em Memphis).

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