MARIA
JOÃO E MÁRIO LAGINHA NO N.J.P.A.C.:
DUO PORTUGUÊS DEU LIÇÃO
DE BOM GOSTO E HUMILDADE
©
Ilídio Martins/Luso-Americano
28 de Janeiro de 2000
Maria
João e Mário Laginha regressaram, no sábado passado, ao New
Jersey Performing Arts Center (NJPAC) para um novo concerto, desta
vez integrado no World Festival, programa que vai na terceira
edição e que aborda agora a cultura de origem hispânica. O duo
português, que bisou a presença no Prudential Hall em pouco mais
de dois anos, integrou um programa preenchido ainda pelas bandas
de Jimmy Bosch e Eddie Palmieri, dois músicos nascidos nos
Estados Unidos mas de raízes hispânicas.
Com a maior sala do NJPAC praticamente cheia, graças a um
público maioritariamente hispânico ou de origem hispânica (os
portugueses, embora em maior número do que da primeira vez,
resumiram-se à previsível meia dúzia de gatos pingados), coube
ao duo português abrir o programa da noite com um tema notável,
a que se seguiram outros de igual beleza que rapidamente puseram
em evidência, sobretudo junto de quem não conhecia (seguramente
a maioria do público), as capacidades vocais de Maria João, o
lado mais visível do projecto mas que não chegou a relegar para
plano secundário, pelo menos aos ouvidos mais atentos, o
excelente desempenho do pianista Mário Laginha, que me pareceu
assumir agora maior protagonismo. Retenho ainda na memória alguns
“quadros” de “Asa Branca”, do brasileiro Luís Gonzaga,
talvez a composição que mais me fascinou e cuja interpretação
chegou a ser comovente. Retenho ainda que não houve composição
que eu achasse menos conseguida ou que me deixasse indiferente,
já que todo o repertório me pareceu muito próximo da
perfeição, seja lá o que isso for. Até a habitual troca de
olhares entre os performers, que a maior parte das vezes funciona
como uma espécie de cábula, me pareceu ser também uma troca de
cumplicidades. Retenho, por último, dois músicos que se
mostraram de corpo inteiro, sem tiques nem truques, com uma
humildade e timidez que, não sendo surpreendentes nem inéditos,
ficam sempre bem a qualquer mortal.
Terminado o encantamento, isto é, o concerto de Maria João e
Mário Laginha, começou o pesadelo. Desconhecia em absoluto as
duas bandas previstas para o resto da noite. Por junto, sabia
apenas que eram lideradas por Jimmy Bosch e Eddie Palmieri, ambos
com currículos vistosos. Com o desenrolar dos concertos ambos
confirmaram os pergaminhos. Para além disso, que já não é
pouco, quer um quer outro mostraram que vinham acompanhados de
excelentes instrumentistas, embora me tenha parecido que alguns
dos cantores tenham roçado a mediocridade, já que aqui e ali me
fizeram lembrar os nossos músicos “pimba”. Mas há que dar o
seu a seu dono, neste caso ao extrovertido Eddie Palmieri, que se
revelou um músico notável e viveu a performance com
indisfarçável gozo e uma energia contagiantes. Pena foi que, e
aqui entra o pesadelo, o som tenha estado muito perto do
lamentável, com alguns instrumentos a não se ouvirem e outros a
revelarem-se um autêntico holocausto aos ouvidos. Como se já
não bastasse a salsa “dura”, onde a agressividade dos metais
emergia de uma densa massa sonora, o som encarregar-se-ia de
piorar as coisas, levando muita gente a abandonar a sala, alguns
com algum estrondo, já que não se coibiram de mostrar a sua
indignação junto da directora do World Festival III.
Curada a dor de cabeça com que saí do Prudential Hall e já
sentado ao computador para escrever estas linhas, tento rever,
mais a frio, o “filme” dos acontecimentos. O primeiro “quadro”
que me surge diz-me que o duo português está mal encaixado no
programa. Não me parece que o público tradicional (ou potencial)
de Maria João e Mário Laginha seja grande simpatizante de salsa,
e o inverso é capaz de ser também verdade. De facto, a proposta
musical dos músicos portugueses nada tem em comum com os
projectos de Bosch e Palmieri, a não ser (talvez) em teoria, onde
não será difícil provar que qualquer cultura tende a
influenciar as restantes e justificar, assim, a escolha. Tanto
mais que o repertório do duo português, ao escapar a qualquer
rótulo conhecido (jazz, world music, por aí fora), tende a
encaixar-se sem grandes sobressaltos nos mais variados estilos
musicais e/ou culturas. Mas o lado prático da questão, o lado
que me interessa aqui abordar, diz-me que teria sido mais
inteligente não misturar alhos com bugalhos.
A finalizar, não me passou despercebida a passagem dos músicos
portugueses pela comunidade, mais exactamente pelo salão do Sport
Club Português, onde eu gostaria de ter estado. Por aquilo que me
contaram, os felizardos presentes puderam assistir a uma espécie
de “workshop” que se traduziu, pelos vistos, num autêntico
concerto. Como aqui já foi dito, na edição de quarta-feira
passada, a iniciativa deveu-se a um esforço notável de um
conjunto de pessoas e entidades que é justo mencionar: NJPAC,
Sport Club Português, Os Lusíadas, Glória de Mello e
Restaurante El Pastor.
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