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A DIVINA PROVIDÊNCIA Nove e pouco da manhã em Pedras Rubras. Dezenas de pessoas aguardam a vez de passar a alfândega. Um sexagenário à minha frente é interrogado por um guarda-fiscal. Bigodinho malandro e ar de chico-esperto, o cavalheiro interroga o infeliz com umas perguntas muito mal-amanhadas, às vezes mal-educadas, com o intuito de o intimidar e de mostrar que, ali, quem manda é ele. Despachado o sexagenário para um canto, onde lhe ordenaram que abrisse as malas, eis que chega a minha vez. A criatura disparou de imediato o indicador em direcção a um saco que eu trazia e quis saber se aquilo era um computador. Depois, se o "comprei cá", se o "comprei lá". A seguir gaguejou umas palermices de que eu já me não lembro mas que tinham um objectivo claríssimo: intimidar-me. Satisfeita a curiosidade do homem, lá fez o favor de me deixar seguir. A cena fez-me lembrar outra muito parecida, há uns anos atrás, cujo final recordo com gosto. Começou por perguntar-me o guarda-fiscal se eu tinha passaporte, como se fosse possível eu ter chegado à sua presença sem passaporte. Lembro-me de me ter deixado sem resposta e de lhe ter apontado um saco de mão onde o dito espreitava, mas o que o cavalheiro queria realmente saber era se eu tinha "alguma coisa a declarar". Como não tinha, começou a fazer-me umas perguntas sem pés nem cabeça. Esgotada a cartilha e não lhe cheirando a nada, mando-me avançar. A cena podia ter morrido ali se não fosse a divina providência, ou lá o que foi no lugar dela, que decidiu agir em meu nome. Especando os pés de maneira a fazer avançar o carrinho das malas pela porta que a criatura ciosamente guardava, acabei por pisar generosamente o pé do cavalheiro com umas botas que eu trazia cujo piso tinha uns bons cinco centímetros de altura. Lembro-me de a criatura ter aberto a goela com estrondo e de não ser caso para menos. É claro que eu apressei-me a pedir-lhe desculpa, procurando demonstrar-lhe que, afinal, foi um mero acidente. E depois prossegui o meu caminho com os olhos do guarda nas minhas costas, seguramente a pensar se eu não fiz de propósito. É claro que vontade não me faltou, mas eu posso garantir-vos que não fiz de propósito. Mas, quem quer que o tenha feito por mim, lá sabia o que estava a fazer.
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Até Já
• 13-01-2011 |