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INCOMPETÊNCIAS Tirando os directamente interessados, não se viu uma única alma manifestar a mais leve compreensão pela greve dos diversos sectores da Justiça. Falo dos comentadores habituais, que foram unânimes em considerar pouco consistentes as razões invocadas pelos grevistas — além de só contribuírem para adensar ainda mais o clima de desconfiança generalizada. Como disse António Barreto, os juízes e os tribunais portugueses trabalham e produzem menos que os congéneres europeus, «a justiça [em Portugal] é mais cara e burocrática» que na Europa apesar de haver «mais juízes e tribunais do que na maior parte dos países europeus», «os direitos das vítimas, sobretudo se forem pobres, são pouco respeitados», há uma «enorme trapalhada processual» sempre que «estão em causa poderosos ou famosos, autarcas, banqueiros, políticos, empresários, dirigentes do futebol ou estrelas de uma qualquer galáxia». Só faltou dizer que existem suspeitas de juízes protegerem arguidos enquanto tranquilamente integram organismos europeus de combate à corrupção — e não acontece nada. Face a um quadro destes, como entender uma greve por causa de mudanças nos serviços sociais e na assistência à doença, do congelamento da progressão das carreiras, da alteração dos estatutos da pré-aposentação e do encurtamento das férias judiciais? Tirando os interessados, não se vê quem esteja interessado em entender privilégios que são só para alguns. Mais: quem ainda acredita na Justiça? De facto, esta é a pergunta que se impõe após os últimos desenvolvimentos dos casos Felgueiras e Pedroso, da investigação à banca, das escutas ao Procurador, da greve que ninguém percebeu. É que ele são trapalhadas atrás de trapalhadas, incompetências atrás de incompetências, e está por demonstrar que são trapalhadas e incompetências puras e simples. Pior só constatar que nada se tem feito para alterar o actual estado de coisas, que se degrada de dia para dia e ainda nenhum governo demonstrou ser capaz de pôr nos eixos. Toda a gente percebeu que o «caso Joana», que terminou em tempo útil apesar das trapalhadas, só chegou a bom porto porque os arguidos eram uns pobres coitados, sem meios para se livrarem. Pacheco Pereira tem razão: os agentes da justiça «vivem numa redoma de ciosa impunidade». Mas a culpa é de quem deixou que as coisas chegassem onde chegaram. Ou seja, dos políticos em geral e dos governos em particular.
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Até Já
• 13-01-2011 |