ILÍDIO MARTINS página pessoal |
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O MANUEL O empregado que costuma servir-me o almoço trabalha 13 horas por dia. Ao que sei, não é excepção, pois todos os empregados dos restaurantes aqui da área trabalham mais ou menos esse tempo. Deve ser por isso que, nos dias de folga, o encontro a almoçar no restaurante onde trabalha. Afinal, para onde haveria de ir nos dias de folga? Que mundo haverá além do restaurante onde trabalha 13 horas por dia, seis dias por semana? Diz-me Manuel (chamemos-lhe Manuel) que um colega foi despedido porque a gerência o achou «distraído». Achou a gerência e achou o Manuel, que as distracções dos colegas resultam em mais trabalho para quem não se distrai. De facto, revendo mentalmente o colega, lembro-me de o ver distraído — e um empregado de restaurante aqui da área não tem tempo para estar distraído. Tem que estar com a cabeça no que está a fazer 13 horas por dia, seis dias por semana, e do resto ninguém quer saber. Caso assim não seja, é certo e sabido que não vai dar conta do recado — e que acaba no olho da rua. Um dia contaram-me que Manuel, ainda sob o efeito da anestesia por causa de uma intervenção cirúrgica, desatou a berrar ordens para o cozinheiro. Não fiquei surpreendido. Afinal, depois da conversa das 13 horas por dia, Manuel passou por mim, parou por instantes, e disparou: «tenho os filhos criados, mas não os vi crescer». E desapareceu a berrar ordens para o cozinheiro antes que eu fosse capaz de articular uma simples palavra.
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Até Já
• 13-01-2011 |