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BANDEIRAS Vocês não imaginam o que eu me tenho divertido com as reacções dos que não se conformam com a «epidemia de bandeiras» portuguesas, como alguém já lhe chamou. E digo divertido porque ainda não vi quem fosse capaz de explicar que mal tem isso, e até me parece que são precisamente estes cavalheiros que se fazem passar por espanhóis ou italianos logo que se apanham fora de portas. A onda de «patriotismo moderno» faz esquecer os males que nos apoquentam? Pois ainda bem que assim é, que isso só nos faz bem e não tem contra-indicações. Pelo menos as contra-indicações que os senhores dizem ter, embora não digam quais nem expliquem porquê. Qualquer patego sabe que a euforia da bola não vai durar sempre, mesmo imaginando o cenário mais prolongado. Logo regressarão os males que nos afligem, a mesmíssima pasmaceira, a falta de auto-estima. De maneira que não se percebe o que consome estes cavalheiros, que parecem incomodar-se por ver toda a gente feliz e a dar largas ao patriotismo — mesmo que a felicidade lhes pareça um exagero e o patriotismo roce o patético. Eu sei que é fino não gostar de futebol, não perceber nada de futebol. Porque o futebol é um desporto de massas, e contam-se pelos dedos as elites que se interessam por futebol. Além de que a bola desvia a atenção de coisas bem mais importantes, nomeadamente as coisas que os cavalheiros consideram mais importante mas que os portugueses, com futebol ou sem ele, teimam em ignorar. Mas o futebol não é só alienação ou instrumento usado por ditaduras (e por democracias, já agora) para amansar o povo. O futebol é, também, motivo de alegria e de festa. Como está a sê-lo para os portugueses no momento presente, e só não percebe isto quem não quer. Ou, então, quem julga que o povo só deve entusiasmar-se com o que os cavalheiros muito bem entendem, e ainda bem que o gosto não se institui por decreto. Mas eu suspeito que o inconformismo não passa de foguetório, pois estou convencido de que esta gente vibra com a selecção — e, até, com as bandeiras. Só que o fazem a recato, longe de olhares curiosos, como os maridos que compram a Maria para as esposas e acabam a ler à socapa. E, nesse caso, o problema é outro.
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Até Já
• 13-01-2011 |