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MÚSICA Como julgo ter acontecido praticamente a toda a gente da minha geração, não tive educação musical. Na escola, lembro-me vagamente de umas aulas a que chamavam canto coral, que aproveitei para não pôr lá os pés (quando o professor não marcava faltas) ou para chatear o professor (quando decidiu marcar faltas). Fora isso, a vida ensinou-me que a música se dividia em dois grupos: a que dava para dançar (a boa), e a que não dava. Mais tarde descobri a crítica musical, que consumi em doses que não recomendo a ninguém. Graças a ela comecei a gostar de música a sério, tomei conhecimento de subtilezas que até então me escapavam, tornei-me mais exigente. Mas foi graças a ela, também, que passei a ouvir música com demasiados conceitos — e não menos preconceitos. Chegou a tal ponto a «erudição» que a análise técnica (chamemos-lhe assim) quase anulou a parte lúdica, pois ouvir música tornou-se um exercício em vez de um prazer. Diagnosticada a maleita, nunca mais li uma crítica. Mais: cada vez me interessa menos saber quem estou a ouvir. Naturalmente que uma decisão destas teve consequências: é frequente confundir alhos com bugalhos, nomeadamente no repertório clássico, até músicas que conheço de cor. Mas como a ideia é fruir a música de forma inteiramente livre, a questão tornou-se secundária. Aliás, nem isso, pois cheguei a um ponto que só me interessa o prazer. O resto pode ser muito interessante — e certamente que é — mas deixou de me interessar. Mas não se julgue que tenho alguma coisa contra a crítica. Bem pelo contrário: acho que a crítica tem uma função meritória. Só que quando me falam de crítica apetece-me logo responder como García Márquez quando lhe perguntaram o que pensava dos críticos literários que analisavam a sua obra: «A mi me gustan mucho los críticos, principalmente quando jugan fútbol.»
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Até Já
• 13-01-2011 |