ILÍDIO MARTINS página pessoal |
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A PUTA DA VIDA Estou condenado a viver entre quem não lê um livro, não ouve música, não vê um filme. Digo um livro que não seja O Código da Vinci ou Sei Lá, música que não seja Eminem ou Quim Barreiros, um filme que não seja o Rambo ou coisa parecida. E não lêem um livro porque dizem não ter tempo para ler, não ouvem música porque nunca é oportuno ouvir música que não seja a do costume, não vêem um filme porque um filme que saia da «normalidade» requer uma predisposição especial. Mas sabem eles que o escritor Fulano é gay, que o compositor Sicrano vive com aquela catraia que fez Pelo Buraco da Fechadura, e que o realizador Beltrano foi apanhado numa casa de putas. E conhecem, claro está, todos os lugares-comuns que sobre eles se dizem, que eles não são parvos e estão bem «informados». Eles sabem, por exemplo, que o escritor Fulano é um prodígio — embora nunca tenham lido uma linha do que ele escreveu; que o compositor Sicrano é um génio — por razões conhecidas de todos que os dispensa de explicar; e que o realizador Beltrano é divino — apesar de os ter feito adormecer ao cabo de dez minutos. Ora, é precisamente isto que me chateia. Que eles não queiram saber dos livros, de música ou de cinema, é lá com eles. Mas que me queiram tomar por parvo, e que eu tenha de fazer de parvo para não me chatear, incomoda-me. Mais de que nada ter a ver com esta gente, incomoda-me passar por um deles — e ser por eles tratado como um deles. Infelizmente nada posso fazer para mudar este cenário. Quando muito, enfiam a carapuça caso me leiam, e acham que eu tenho a mania. É a puta da vida. Deles, e da minha.
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Até Já
• 13-01-2011 |